Fibromialgia
Entendida como experiência sensorial e emocional desagradável, a dor é considerada tradicionalmente um sinal, sintoma, que alerta para a ocorrência de lesões no organismo. No entanto, são numerosos os exemplos de dores corporais sem base fisiológica observável.
O diagnóstico e o tratamento da dor crônica têm mobilizado profissionais de diferentes áreas e é uma das razões da procura por atendimento médico e afastamento do trabalho. As síndromes de dor crônica têm a dor como sintoma principal e são classificadas de acordo com a região acometida, incluindo-se a fibromialgia.
No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, essa síndrome acomete 8% da população, sendo a maioria dos casos observados em mulheres. Nela prevalece a dor generalizada em distintas regiões do corpo. Em geral, essas dores são concomitantes a outras manifestações corporais, como cansaço, rigidez muscular, perturbações do sono, alterações no funcionamento do intestino, dores de cabeça e dores difusas e etc.
Apesar desse agrupamento de sintomas e da evolução clínica conhecida, até o momento não se descobriu a causa orgânica para a fibromialgia. Além disso, não há resposta homogênea à terapêutica farmacológica e, em muitas situações, a dor permanece mesmo sendo empregados os mais poderosos analgésicos. Em muitos dos casos recorre-se a antidepressivos como possibilidade de tratamento. Para a psicanálise, a dor crônica expõe questões cruciais sobre o corpo e a regulação das pulsões.
Diante do enigma de uma dor que faz sua morada no corpo e, tal como o sintoma, se repete e, como a pulsão, insiste; a psicanálise é convocada a intervir, aceitando a abordagem multidisciplinar indicada para seu tratamento. Algumas formulações freudianas sobre a dor são a base da reflexão de alguns psicanalistas que se dedicam ao trabalho sobre esse tema atualmente.
Em especial, as que se referem a vicissitudes na capacidade do aparelho psíquico lidar com o excesso que seria próprio da dor.
Igualmente em consonância com a proposta freudiana, Leite e Pereira entendem que a dor marca o limite do eu atravessado por um excesso. Ela erotiza o corpo que arrisca revelar-se como carne crua, reveste o corpo orgânico.
Nesse caso, a dor corporal sem causa orgânica indica seu caráter de mensagem a ser decifrada. Revela-se um sintoma freudiano que se relaciona com a história do sujeito, tem um sentido e se oferece à decifração. Nessa direção, alguns autores pontuam a fibromialgia como um fenômeno também psicossomático. Outros, a observam como próxima de manifestações histéricas nos tempos atuais.