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Psicanálise e Alzheimer

Uma pergunta sobre psicanálise e Alzheimer, feita na nossa página do insta, me provocou a fazer esse texto. Para escrevê-lo eu me baseei em um artigo de Neuma Barros e Edilene Queiroz chamado de “Do corpo à subjetividade:  um olhar psicanalítico sobre a doença de Alzheimer”. Nele as autoras mencionam que no Alzheimer há uma desorganização do eu.

Contudo, para entender o que Barros e Queiroz falam sobre essa desorganização do eu é necessário retomarmos alguns entendimentos de neuroanatomia acerca da doença de Alzheimer, que nos levam a entender que nela células do cérebro se degeneram gerando demência.  Nesse caso, as lesões neuronais, no âmbito do córtex cerebral, produzem   déficit   de   memória   e, por   consequência, comprometimento do pensamento e da atenção. Em decorrência disso, vemos surgir nos sujeitos rompantes libidinais ou de intensa hostilidade, que podem se relacionar a desejos/ afetos, dinamicamente suprimidos, que por muito tempo foram mantidos longe da consciência. 

Em psicanalise entendemos que a memória e o esquecimento andam juntos e que a diminuição das funções da memória pode alterar o aparelho psíquico e o trabalho do eu – que se situa na base do pensar e na atuação das defesas.  Diante disso, o eu se vê enfraquecido para exercer sua ação repressora, resultando daí a irrupção de conteúdos recalcados. Além disso, o super eu que encarna a lei e exerce papel de juiz e o eu não mais investe em arbitrar as exigências do id.

Nas origens da Psicanálise, o esquecimento  e  suas  relações  com  o  recordar  tornaram-se o eixo fundamental da teoria do recalque. Para Freud, é importante lembrar, o recalque originário funda as barreiras entre os sistemas psíquicos. É neste momento que se funda também o estranho como produto de tudo o que foi rejeitado na constituição do eu. Fora das fronteiras do eu, esse estranho insiste em romper a barreira do recalque para se integrar à organização do sistema egóico. Na vida há essa frequente tentativa de tornar o estranho familiar.

No caso da demência, há uma sensação de nunca se sentir em casa quando a inquietante estranheza não pode mais ser apropriada.  Entre o estranho e o  familiar,  surge  um  sujeito incerto, perdido e despojado  de  suas referências que é jogado à estrangeiridade de si mesmo, tendo em vista que as imagens de si e do outro não mais encontram à memória. Nesse contexto, o paciente com Alzheimer se vê um não lugar, não tempo, não memória. 

Nestes casos, a abordagem interdisciplinar, com equipe multidisciplinar, pode demonstrar importantes resultados. No caso da abordagem psicanalítica, esta é especialmente importante, no início da doença ajudando a elaborar aquilo que é condenado ao esquecimento.

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