Sonhos
Em Freud vemos o sonho enquanto um exemplo privilegiado de um processo primário, pois ele é acompanhado de uma diminuição das necessidades físicas e de um desligamento daquilo que possa vir a ser externo, que permite que o descanso e evita o despertar. É válido destacar que Freud usou os sonhos como ponto de partida para as associações livres que conduziam até as ideias inconscientes que se ocultavam atrás de sintomas e sonhos.
Conforme afirma Freud, sua essência é a de um desejo reprimido durante a infância. Contudo, existem processos que dificultam que se lembre o conteúdo dos sonhos, bem como que o percebamos sem deformações. Desse modo, para que o relato de um sonho seja interpretado é importante que não seja entendido de uma só vez, na sua totalidade, pois, devido a ser formado no inconsciente existem afetos e fragmentos da realidade que podem se mostrar confusos.
Mediante essas afirmações, podemos pensar em algumas fontes dos desejos oníricos/dos sonhos, citarei quatro delas: A) Restos diurnos não satisfeitos, que foram despertados por algum motivo externo que não foi concretizado. B) Restos diurnos recalcados, que surgiram durante o dia, mas foram suprimidos. C) Desejos que nada tem que ver com a vida diurna, mas que surgem durante o sono. D) Impulsos decorrentes de estímulos noturnos (fome, sede, sexo etc).
Segundo Freud, sempre haverá dois componentes básicos intrínsecos na interpretação do sonho: o conteúdo manifesto do sonho e os pensamentos oníricos latentes. O material do primeiro corresponde ao sonho lembrado e relatado pelo sonhador. Já o material do segundo trata do material oculto e inconsciente do sonho, que se pretendem atingir através da interpretação. Nessa perspectiva, para exemplificar, podemos dizer que desejos, nos sonhos, preparam-se para ser manifestos, entretanto, a censura consciente não permite que eles sejam expressos. Caso se pergunte se é possível interpretar todos os sonhos, a resposta é negativa. Não se deve esquecer que, na interpretação de um sonho, têm-se como oponentes as forças psíquicas que foram responsáveis por sua distorção/ deformação ou censura.
Acerca dos sonhos de angustia, Alberto Coutinho aponta que estes têm o papel de evitar que o sujeito enfrente algo para o qual não está preparado. Assim, para o autor, no sonho a angústia exerceria função de autoconservação psíquica, na medida em que o súbito "despertar" por ela causado evita que o sujeito se encontre com algo ameaçador e psiquicamente intolerável, sinalizado pelo umbigo do sonho. Com isto, é possível dizer que no sonho de angústia o desejo do "sujeito" é um oxímoro: desejo alienante. Ou, mais precisamente, talvez ele possa ser definido como um des-ejo. O sonho de angústia é, sob esta perspectiva, uma vivência de desrealização durante o sono.
Outra importante sinalização a ser feita é que a interpretação dos sonhos envolve alguns preceitos técnicos. Acerca da prática da interpretação de sonhos, em “Observações sobre a teoria e a prática da interpretação de sonhos” (1923 [1922]), Freud apresenta quatro procedimentos distintos para analise de sonhos de analisandos: a) solicitar associações aos elementos do sonho na ordem em que eles aparecem no relato; b) iniciar o trabalho de interpretação a partir de algum elemento específico do sonho, apanhado de seu meio; c) desprezar o conteúdo manifesto e perguntar ao sonhador a respeito dos acontecimentos do dia anterior associados em sua mente com o sonho que descreveu; d) se o sonhador já estiver familiarizado com a técnica de interpretação, deixá-lo decidir com que associações o sonho irá começar.
Para finalizar vale mencionar que a teoria freudiana sobre sonhos tem suas bases em aspectos como: a diferença entre o conteúdo manifesto do sonho e os pensamentos oníricos latentes; a tese dos sonhos como realizações de desejos recalcados; uso de mecanismos de deslocamento e condensação como parte do trabalho do sonho; papel da resistência no conteúdo e na lembrança dele; transformação no contrário; e, a associação livre como método de desvendar os sonhos.